Yara Ayllin conta sua experiência como indígena no curso de Medicina
Para o Dia Internacional dos Povos Indígenas, celebrado nesta segunda-feira, 9 de agosto, resgatamos a entrevista concedida por Yara Ayllin dos Santos, índia Caripuna, da reserva Uaçá, no Amapá, ao jornal de divulgação científica Beira do Rio. Filha de um cacique pertencente a uma família de líderes indígenas tradicionais e de uma professora nascida no Pará, Yara é casada, mãe de dois filhos. À época da entrevista, em 2018, estava no último semestre do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA), no qual entrou pelo sistema de reserva de vaga, instituído em 2010. Nesta entrevista, ela conta um pouco da sua história, fala da necessidade de voltar sempre à aldeia para continuar sendo reconhecida como índia, revela como os índios veem os médicos, narra um pouco dos desafios e preconceitos enfrentados por ela dentro de um curso de elite e critica a ausência de uma política de permanência na Universidade.
“Quando a gente fala de indígena, as pessoas sempre pensam que o indígena é quem está procurando serviço, nunca a pessoa que vai oferecer um serviço. Então o indígena é visto sob o estereótipo de coitadinho, de incapaz. Quando entrei no curso, os colegas logo me reconheceram como indígena por causa do nome e da fisionomia. Quando eles ficaram sabendo que entrei por meio do sistema de reserva de vaga, eles quiseram, então, me dar a parte mais fácil dos trabalhos em equipe, porque achavam que eu não daria conta. Isso não deixa de ser uma forma de preconceito.”
“A ideia que a sociedade faz do indígena é que ele tem que viver no meio do mato, andar pelado e só comer a comida que plantar, caçar ou pescar. É muito comum alguém dizer que um índio não é mais índio porque usa celular, roupa normal ou porque acessa uma rede social. Quando ouço algo assim, reajo perguntando: “e você, por que não usas mais aquelas roupas compridas, antigas, que os brancos usavam há 517 anos? Ora, o mundo todo evoluiu, por que só o índio tem que ficar parado na história?”. Então eu sempre bato nesta tecla: eu não vou deixar de ser índia, porque uso jeans, salto alto, porque vou ser médica, porque moro na cidade, entende? Ainda há muita gente que acha que só é índio quem mora na aldeia, não fala português, que bate na boca para fazer barulho, tipo índio de filme! São pessoas que gostam de generalizar”.
Para acessar a entrevista completa, clique no Jornal Beira do Rio.
Publicado em fevereiro de 2018
Publicado no Portal da UFPA em 09/08/2021.