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UFPA participa do primeiro estudo genômico com doença de Parkinson em pessoas da América Latina

  • Publicado: Terça, 03 de Agosto de 2021, 08h02
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O primeiro estudo genômico com doença de Parkinson em pessoas da América Latina tem a participação da Universidade Federal do Pará (UFPA). O Brasil colabora com mais de 400 participantes envolvidos na pesquisa. A UFPA está envolvida por meio do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) da UFPA, sob coordenação do professor Bruno Lopes, da Faculdade de Medicina. Recentemente, o estudo repercutiu em publicações científicas de renome internacional. O artigo mostrou que algumas áreas do genoma, mais comuns em pessoas do Peru, parecem estar mais relacionadas com o surgimento da doença.

A publicação ocorreu na revista Annals of Neurology e no site Technology Networks. Segundo o professor Bruno Lopes, nesse artigo, não há resultados de pessoas de Belém, mas o estudo continua e está recebendo amostras provenientes de estudos na UFPA. Em uma futura versão da análise, deverá contar com amostras de Belém. Trata-se de um estudo da associação genômica ampla (GWAS) sobre as causas genéticas da doença de Parkinson (DP).

“Estima-se que, para uma pessoa qualquer desenvolver DP durante a vida, 50% desta chance depende do ambiente (fatores alimentares, poluição, estressores emocionais, traumatismos, etc.) e 50% da genética de cada indivíduo. Isso porque todos nós, dentro do DNA, temos pequenas modificações chamadas polimorfismos. Em geral, estes polimorfismos não causam doenças, mas podem aumentar ou diminuir o risco de alguém ter diabetes, hipertensão e DP. Além disso, um polimorfismo geralmente não tem poder de modificar substancialmente a saúde de alguém, mas se você juntar todos os polimorfismos existentes em uma pessoa, aí sim isso pode determinar o surgimento de uma doença. No nosso caso, nós estamos fazendo o trabalho de olhar um número enorme de potenciais polimorfismos (cerca de 7 milhões) em cada pessoa, e determinar quais destas variantes genéticas está mais associada à doença”, explica Bruno Lopes.

A pesquisa é parte dos resultados de uma iniciativa internacional chamada LARGE-PD (Latin-American Research Consortium on the Genetics of Parkinson's Disease), que tem como finalidade explorar a genética da DP na América Latina. A iniciativa tinha como centro a Universidade de Washington, nos EUA, e atualmente está centrada no prestigiado hospital Cleveland Clinic (Ohio, EUA), sob comando do Dr. Ignacio F. Mata. No Brasil, o recrutamento de pacientes começou em Ribeirão Preto, São Paulo (capital) e Porto Alegre, há cerca de 12 anos. “Eu me envolvi no estudo em 2010, quando fazia minha subespecialização em Distúrbios de Movimento na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, sob orientação do Prof. Vitor Tumas”, conta.

De acordo com o pesquisador, estudos com GWAS em DP não são novos, porém quase todos são feitos apenas em populações europeias caucasianas e do leste da Ásia, com pouca miscigenação. “Isso, obviamente, exclui das análises pessoas com ascendência mista, como a maioria de nós, latino-americanos. Sendo assim, nada do que sabíamos sobre genética de DP se aplicava automaticamente em pessoas como eu. Talvez houvesse polimorfismos, comuns apenas em latinos, que os estudos anteriores de GWAS não teriam como detectar. Nosso estudo vem para preencher essa grave lacuna de conhecimento”, esclarece.

Até agora, a pesquisa mostrou que o gene SNCA, que abriga a proteína alfa-sinucleína (tida como uma das principais causas da degeneração que ocorre na DP), contém mais áreas associadas ao surgimento da DP. Bruno Lopes afirma que este resultado já havia sido mostrado em outros estudos de GWAS. Como novidade, obteve-se dois genes (STXBP6 e RPS6KA2) que também se mostraram associados à DP, porém na análise específica para indivíduos com ancestralidade ameríndia e africana, respectivamente.  

“Os resultados são bem positivos. Em relação ao artigo, o que divulgamos é importante como um passo inicial no estudo genético de populações tão complexas como a latino-americana, porém o número total de indivíduos (807 pessoas com DP e 690 indivíduos-controle) ainda é baixo, quando comparamos com outros estudos de GWAS. Além disso, os resultados que alcançamos também mostram que o projeto está bem amadurecido para explorar novos grupos populacionais e expandir os resultados atuais”, avalia o professor.

Próximas etapas - A meta da pesquisa, agora, é recrutar cerca de mil pacientes com DP e outros mil indivíduos para controle no Brasil ao longo dos próximos anos. “Anteriormente, eu havia participado como colaborador nas análises dos participantes de Ribeirão Preto, mas agora tenho a oportunidade de enviar amostras de pacientes e controles aqui do Pará, sendo grande parte deles pessoas que acompanho no Ambulatório de Distúrbios de Movimento do Hospital Ophir Loyola”, diz Bruno Lopes.

 A expectativa é a de que a inserção de pessoas da Amazônia aumente o grau de complexidade das análises, já que a contribuição étnica do Sudeste e Sul do Brasil (origem dos pacientes já analisados pelo LARGE-PD) tem baixa contribuição ameríndia, e mesmo nos outros países amazônicos que contribuíram (Peru e Colômbia) com o estudo, a origem dos participantes é de áreas mais distantes da Amazônia. “Também espero que, no Brasil e nos outros países, este estudo encoraje novos pesquisadores a se juntar ao nosso grupo. Todo esforço é importante para a busca de uma cura para esta desafiadora doença”, conclui o pesquisador.

Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Arte: Divulgação

Publicado no Portal da UFPA em 02/08/2021.

 

 

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